domingo, 15 de maio de 2011

“Consciência” de Durkheim X “Consciência” de Marx: qual delas merece o reino dos céus?



Se é possível afirmar que foi Comte quem criou o termo sociologia, estabelecendo uma série de idéias e questionamnetos em torno do mesmo, também pode-se dizer que foi Durkheim quem consolidou essa “ciência”, imprimindo especificidade e dando corpo a ela. O objeto de estudo da sociologia seria o que Durkheim denominou fatos socias.


Os fatos socias são divididos em dois grupos: os normais e os patológicos ou anormais. Um fato social é normal quando generalizado ou quando desempenha alguma importante função para a adaptação ou para a evolução da sociedade. O autor afirma que “normal é aquele fato que não extrapola os limites dos acontecimentos mais gerais de uma determinada sociedade e que reflete os valores e as condutas aceitas pela maior parte da população. Patológico é aquele que se encontra fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente. Os fatos patológicos, como as doenças, são considerados transitórios e excepcionais”.


As greves e as várias formas de luta dos trabalhadores, por melhores condições de vida, por exemplo, seriam na opinião de Durkheim, indicativos de que a sociedade estaria doente. O autor acreditava que o socialismo era a expressão de desespero e dor dos que estavam vivendo as consequências da industrialização, mas afirmava que um médico não pode tomar os sintomas como a causa da doença, assim no grito de dor não estaria a solução, já que seria mera manifestação sintomática que escondia as causas mais profundas de tal disfunção.


Segundo Durkheim não seria os trabalhadores os seres realmente capazes para resolver tal situação, mas sim os cientistas e sociólogos. Eles pensariam pelos trabalhadores e indicariam como eles deveriam agir, embora estivessem, quase sempre, é claro, em sintonia com os interesses dominates da sociedade.


A sociedade para Durkeim seria semelhante a um imenso e complexo organismo em desenvolvimento, em busca de equilíbrio e harmonia, onde cada um deveria cumprir sua função social de acordo com a divisão do trabalho, que teria como elemento central a solidariedade. Como no livro Admirável Mundo Novo (Brave New World na versão original em língua inglesa), no qual Aldous Huxley descreve uma sociedade onde as pessoas são organizadas por castas e condicionadas a viverem em harmonia com as leis e regras sociais.


Huxley retrata a ideia simplista do progresso, alicerçado apenas na técnica; o sórdido materialismo mecanicista e certas ideologias filiadas numa filosofia de inspiração pragmática. Durkheim, ao contrário, faz uma crítica à civilização industrial que se edifica indiferente aos princípios morais, afirmando que a “imoralidade coletiva” se expande na medida em que se ampliam as artes, as ciências e a indústria. Para o autor o individualismo representa a degeneração moral da sociedade.


Durkheim acredita que a consciência coletiva revelaria o tipo “psíquico da sociedade”. Seria caracterizada pelo “conjunto de crenças e dos sentimentos comuns dos membros de uma mesma sociedade” que, por sua vez, formaria “um sistema determinado com vida própria”. A consciência coletiva, sendo uma espécie de forma moral vigente na sociedade, não equivaleria à mera soma das consciências individuais; seria a expressão de algo que perpassa, se espalha e se impõe “de fora” a todo indivíduo.


Estabelecendo um paralelo entre a visão oficial marxista a respeito da consciência de classe do proletariado, enquanto o portador de uma missão histórica- que seria a libertação de toda a humanidade por meio da revolução comunista, colocando fim a exploração do proletariado- e a consciência coletiva de Durkheim- que seria a aceitação das “funções sociais” e a manutenção da ordem vigente- percebemos a aproximação das ideias de Durkheim com interesses e valores das classes dominantes da época.


Não podemos afirmar que Durkheim deixava de possuir real interesse ou algum sentimento com os trabalhadores, no entanto, ao procurar resolver teoricamente os problemas da sociedade, tudo o que conseguia era legitimar e sustentar por intermédio de seu pensamento os previlégios da elite dominante. Sua sociologia é conservadora, muito embora abra espaço para a manifestação e explicação da mudança.

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