domingo, 10 de abril de 2011

Multidisciplinaridade

Apesar dos 28 anos, o filme “O Ponto de Mutação”, dirigido por Bernt Capra continua atual e não perdeu sua importância reflexiva. A conversa de um político, um poeta e uma física cativa o público ao usar exemplos práticos e didáticos, facilitando compreensão e visualização dos pontos de vista defendidos.

Não apenas tratando de filosofia, toca-se em assuntos como perder sua moral para render-se ao sistema, reforçado quando adiante, ainda sobre o campo político, questiona-se “seguir a corrente”, mesmo que não seja coincidente com as crenças para conseguir apoio.

O primeiro filósofo mencionado é Descartes. A protagonista ilustra suas proposições como se fosse um relógio: para compreender o todo, seria necessário separar as partes para estuda-la, como se desmontássemos um relógio para estudar cada peça e assim entender seu funcionamento. Chamaram-no mecanicista. Não devemos tirar seus méritos, pelo contrário, como já discutimos a importância na época valorizando a razão. Entretanto, essa minúcia foi criticada em proposição de integrarmos as partes para melhor compreendermos os fenômenos. Em questões atuais, poderíamos exemplificar com o objetivo da reformulação gradual dos vestibulares: cobrar a interdisciplinaridade e a capacidade da correlação de fatos.

Em seguida, Francis Bacon entra em cena e sua defendida escravização da natureza. O argumento é rebatido com base na sustentabilidade do planeta: não podemos fazer tudo o que queremos sem responsabilidade, é preciso cuidar o que restará às gerações futuras. A demonstração é feita com a falta de recursos e, na opinião da física, o aquecimento global (hoje há pesquisas que indicam outros fatores para tal, como a variação da atividade solar com dados gráficos coincidentes – e aqui vemos a importância dos dados, defendida por Descartes).

Levanta-se também a questão dos padrões da vida, os ciclos históricos. Chega-se à conclusão de que nossas vidas são permeadas por probabilidades e conexões. Voltando ao aquecimento global, por exemplo, dados demonstram a variação drástica de temperatura da Terra muito antes de o homem começar a castiga-lo. Para tantos anos existentes desse planeta, iniciamos seu estudo há relativamente pouquíssimo tempo para conhecer e assimilar os ciclos.

Já quanto a assuntos mais práticos, há belas discussões físicas que nos remetem ao Princípio da Incerteza de Heisenberg (é impossível determinar, simultaneamente, a posição e a velocidade de uma partícula) e a probabilidade de onde seria possível encontrar os elétrons em um átomo (os orbitais). Faz-se pensar, ainda mais na sala destinada no passado a torturas, sobre as novas tecnologias, tanto a inacessibilidade no momento em seguida ao seu lançamento quanto a forma de seu uso, podendo ser boa ou ruim. Questiona-se a ciência pelo saber ou pelo seu uso ou verdade, implicando uma relação finalidade/comércio.

Crê-se, afinal, na união da ciência específica com uma visão geral para total compreensão, o que pode ser exprimida por duas frases recorrentes ao longo do filme: “no saint stands alone” e “Nenhum homem é uma ilha”, do mesmo modo que nosso conhecimento não precisa sê-lo.

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