domingo, 10 de março de 2024

A imaginação sociológica como forma de entender o racismo na sociedade brasileira contemporânea

    Em "A Imaginação Sociológica", de C. Wright Mills, a utilização do método homônimo oferece a capacidade de ver a partir de outras perspectivas, a fim de compreender o cenário histórico e político vivido e como chegou-se a tal. Dessa forma, pode-se utilizar seus argumentos, feitos em 1959, para embasar a visão de Grada Kilomba ao comentar o racismo em seu livro "Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano".

    A princípio, vale ressaltar que o racismo não é uma perturbação pessoal, e sim uma questão estrutural na sociedade. Grada Kilomba trata do preconceito que sofreu no ambiente acadêmico alemão, sendo vista como intrusa em locais e precisando fazer processos não exigidos de estudantes brancos, porém sua crítica se estende até a sociedade brasileira, dentro e fora da academia, pois, além da necessidade da Lei de Cotas em universidades para garantir a formação de mais pessoas negras, profissionais negros são questionados em suas habilidades e formações, como ocorreu com uma neurologista negra em Sergipe, a qual teve um paciente que exigiu que mostrasse seu número de registro no Conselho Regional de Medicina, mesmo que o dado já estivesse disponível antes da consulta.

    Além disso, é importante destacar como discussões sobre o racismo são tratadas com desdém em vez da devida preocupação. Ao falar sobre situações cotidianas de racismo, pessoas negras se deparam com a ideia de que estão apenas "exagerando" ou que é uma situação exclusivamente pessoal, e que deveria ser tratada como tal. No entanto, a ideia presente no livro de Mills sobre grandes questões estruturais serem reduzidas a problemas a serem tratados individualmente, com o propósito de evitar o questionamento em massa do problema, é comprovada no Brasil com a Lei 14.532/2023, na qual a decisão muito criticada de não comparar injúria racial ao crime de racismo foi finalmente retificada, pois não é possível ofender alguém com base em sua raça sem fazer isso de modo racista, ofendendo a todos com as mesmas características. 

    Logo, é perceptível como o racismo é presente na sociedade brasileira contemporânea. Apesar de avanços realizados em sua punição, é necessário também uma mudança na estrutura da sociedade, ainda construída com base na sociedade escravagista do século XIX.


Beatriz Perussi Marcuzzo, 1º ano - noturno, RA: 241220459

O negacionismo científico e a crise do Método

   "Uma mentira dita mil vezes, torna-se verdade", tal é a célebre frase proferida por Joseph Goebbles, ministro da propaganda na Alemanha nazista. Orientada por uma visão distópica da realidade, um ensaio acerca do dizer permite inferir uma exaltação da inverdade, uma vez que valoriza a opinião desvinculada de ciência como incontestável. Nesse sentido, a sociedade brasileira calcada nos dias atuais tem se apresentado como uma extensão do ilógico e perpetuado a disseminação da opinião anticientífica. 

   Desde a Idade Moderna, a concepção de ciência e a negação das opiniões infundadas já havia se tornado pauta para os filósofos do período. Conforme os preceitos de René Descartes, físico, filósofo e matemático moderno, a verdade incontestável seria proveniente de deduções metafísicas e científicas, alheia do empirismo e das crenças individuais. Foi nesse contexto, que instaurou o Método Científico, em que a partir da observação e da solução das dúvidas seria capaz de atingir um conhecimento verdadeiro, racional e confiável, "Penso, logo existo". Dessa forma, a verdade para Descartes, diferentemente de Goebbles, é alcançada a partir do estudo e da análise racional. 

   No que tange a contemporaneidade, no entanto, a pandemia da Covid-19 que assolou o mundo em 2020, expôs abertamente a crise do intelecto humano e o retrocesso do saber científico. No Brasil, por exemplo, durante o ápice da disseminação do vírus, o país atingiu a menor cobertura vacinal já registrada em duas décadas, fato corroborado pelo aumento do discurso negacionista, uma vez que negava a eficácia da vacina e caminhava na via oposta à científica. Como consequência de tal ato, a condenação da ciência custou a vida de aproximadamente 700.000 brasileiros na pandemia. Assim, denota-se que a negação do método cartesiano e o enaltecimento das "verdades" provenientes de meras opiniões são amplamente prejudiciais tanto na esfera científica quanto na vida em sociedade. 

   Conclui-se, portanto, que a verdade incontestável e racional não está pautada na sua banal repetição como pensava Goebbles, mas na busca por um saber científico. Com efeito, a exaltação do Método Cartesiano é a base para uma sociedade livre de crenças empíricas e doutrinas vãs, à medida que a ciência e a racionalidade já se mostraram os pilares para o progresso social e tecnológico. 

  

                                  Marcela Druzian Melo, 1º ano - noturno, RA: 241223806

O NEGACIONISMO E O ESQUECIMENTO DE DESCARTES

Mergulhada em diversas crises durante seus 500 anos de vida, a nação brasileira possui um grande histórico de caos político, social e econômico. Todavia, sendo motivo de orgulho ao brasileiros que ainda possuem pelo menos um grão de razão em sua consciência, requisito raro na atual conjectura social, o Brasil sempre demonstrou, desde a Revolta da Vacina em 1910, uma exímia aptidão na aplicação de tal imunização ativa, sendo coroado, durante muito tempo, como um dos países com maior cobertura vacinal. 

Como a alegria dos subdesenvolvidas dura pouco, a nação, conforme o passar dos anos, esquecera os ensinamentos de Descartes e fora destronada. Localizado no século XVII, René Descartes, filósofo e matemático francês, tornou-se reconhecido pela frase "Penso, logo existo". Valorizando a dimensão do pensar cientificamente, o filósofo desempenhou grande papel na divulgação do método científico racional, destacando a exímia utilidade da ciência como um elemento voltado para o bem do homem. 

Entretanto, nota-se que significativa parcela do vigente corpo social manifesta crescente deliberada ignorância no que tange aos benefícios da ciência, especialmente a questão vacinal. Preferindo manter-se submersos no mar de suas falsas certezas, os cidadãos tornam-se céticos irracionais, negando a eficácia daquilo que já fora comprovado eficaz, alegando não ver aquilo que é evidente e obedecendo a um messias que, ao invés de trazer-lhes vida e salvação, leva-os ao caminho da morte.

   Nesse sentido, ao negar os ensinamentos de Descartes e projetar seu próprio fim, os indivíduos se valem do pensamento de Thomas Hobbes: "O homem é o lobo do homem".


Emanuel Francisco da Silveira, 1º ano - Matutino, RA: 241220637