quarta-feira, 5 de abril de 2023

O viés problemático da consciência coletiva


       Dentre seus estudos relacionados à Teoria Funcionalista, que estabelece para cada fato social uma função, o sociólogo francês Émile Durkheim utiliza o termo “consciência coletiva” para se referir ao conjunto de crenças e sentimentos que são, de maneira geral, compartilhados pelos indivíduos de uma mesma sociedade e que são incorporados por eles através da educação com o objetivo de manter a coesão social.

Nesse sentido, analisando tal conceito na prática, entende-se que ele consiste na padronização do pensamento das pessoas na vida em comum, sendo responsável por causar reações semelhantes na sociedade em geral diante de determinados acontecimentos. Um exemplo disso seriam os relatos de Grada Kilomba, em seu livro “Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano”, nos quais é apresentada a dificuldade de uma mulher negra, historicamente colocada na margem social, ser respeitada, tendo que lidar com inúmeras reações que invalidam sua fala e seu trabalho no cotidiano. A partir disso, pode-se dizer que tais relatos representam o racismo presente na consciência coletiva, que, ainda na atualidade, é caracterizada por traços que remetem à herança histórica da escravidão, do patriarcalismo, entre outros. Sendo assim, percebe-se que esse pensamento padronizado torna-se problemático quando é incorporado pelas novas gerações sem que haja uma postura crítica em relação à visão de mundo que está sendo imposta, fazendo com que valores preconceituosos permaneçam na consciência geral da sociedade sem qualquer contestação. 


   Em suma, fica evidente que a consciência coletiva é o mecanismo social responsável por sincronizar o pensamento dos cidadãos de modo que determinados valores, hábitos, condutas e normas sejam considerados socialmente corretos por todos e que, por isso, devem ser incorporados. Em contrapartida, tal conjunto pode reproduzir preconceitos que reforcem a exclusão de grupos marginalizados historicamente. Portanto, cabe à consciência individual repensar criticamente o comportamento imposto pela consciência coletiva.



Lara Guerreiro - Primeiro ano de direito (matutino)

RA: 231223196


" Sapies: uma breve história da humanidade "e o positivismo na atualidade.

 Lorena Ramos Panizza Jalkh 

1° ano de Direito noturno 

RA: 231223072

       O livro de autoria do historiador Yuval Noah Hurari, promete contar a história da humanidade até os dias atuais e ainda faz projeções para o futuro da espécie humana. Nesse sentido, o best-seller propõe uma interpretação da humanidade a partir da análise histórica, assim como Augusto Comte remete ao objetivo da sociologia para compreensão da sociedade : " [...] O espírito dessa ciência consiste sobretudo em ver, no estudo aprofundado do passado, a verdadeira explicação do presente e a manifestação geral do futuro" - COMTE, Augusto. Sociologia, 1978, p. 53. Dessa forma, desde a premissa do livro, escrito em 2011, é possível observar ,a partir da visão do autor, resquícios do positivismo na atualidade. 

       Precipuamente, Comte disserta sobre os três estados da história do conhecimento: Primeiramente o estado " teológico" em que o espírito humano está voltado para as crenças (paganismo) como forma de construção do conhecimento, sendo assim o ponto de partida da humanidade para a busca da explicação dos fenômenos ; em seguida há o estado " metafísico" relacionado ao renascimento e trata-se de um período de transição do conhecimento humano; e por fim o estado " positivo" marcado pela observação como maneira de entendimento da realidade e o advento do método científico. Sob essa perspectiva, o israelense também traz a ideia de que a sociedade atual foi formada por estágios de desenvolvimento social ou estágios de " progresso ". 

       Ademais, devido a sua formação acadêmica ser apenas em história, Yuval Noah não tem experiência em arqueologia, e nem formação na área. Segundo Eduardo Carlos Bittar (2001, p.43), " É por isso que a interdisciplinaridade (transdisciplinaridade) tem surgido como recurso que supera os caminhos monológicos da tradição dos estudos positivistas". Dessarte, os argumentos do autor não se baseiam em referências interdisciplinares suficientes para formular as conclusões do livro. 

       Portanto, o livro está atrelado as ideias do século XIX do pai do positivismo e seu grande sucesso reflete como a sociedade atual ainda enxerga, mesmo que de maneira inconsciente, a forma de pensar proposta por Comte em que a ciência tem como objetivo a descoberta de " leis naturais invariáveis " que exercem poder sobre os seres humanos , e que poderiam ditar proposições para o futuro, como eficaz.


Fato social e consciência coletiva

 "É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas manifestações individuais." Essa é a definição de fato social trazido por Durkheim em seu livro. Ou seja, o fato social é algo exterior do indivíduo que é imposto a ele desde criança (em sua educação, em suas relações sociais e parentais dentro de casa). Essa imposição desde cedo, faz com que o indivíduo seja forjado pela regras sociais até que elas sejam incorporadas pelo indivíduo, de maneira, que aquilo seja algo natural para ele, porém esses comportamentos e ideias não seriam desenvolvidas espontaneamente. Ou seja, ele acha que esses sentimentos tem origem nele próprio, mas isso é algo que foi imposto a ele.

Com isso, cria-se uma consciência coletiva na qual quem se desvia dela é punido- tanto legalmente quanto socialmente. Atualmente, no mundo da Internet, isso se tornou muito comum com a prática do "cancelamento", que puni, socialmente, quem se desvirtua do que é moralmente imposto pela sociedade. Essa punição social pode até ser pior do que uma pena legal, ao passo que alguém "cancelado socialmente", é excluído da sociedade e de suas atividades, assim como afirma Durkheim no trecho: "Se não me submeto às convenções do mundo, se, ao vestir-me, não levo em conta os costumes observados em meu país e em minha classe, o riso que provoco, o afastamento em relação a mim produzem, embora de maneira mais atenuada, os mesmos efeitos que uma pena propriamente dita."

Além disso, essa consciência social causa, o que Durkheim sintetiza na frase "cada um é arrastado por todos", uma espécie de comportamento social que a pessoa não teria se estivesse sozinho, devido à coerção que o fato social é capaz de realizar em uma sociedade. É como Durkheim diz:  "É assim que indivíduos perfeitamente inofensivos na maior parte do tempo podem ser levados a atos de atrocidade quando reunidos em multidão. Ora, o que dizemos dessas explosões passageiras aplica-se identicamente aos movimentos de opinião, mais duráveis, que se produzem a todo instante a nosso redor, seja em toda a extensão da sociedade, seja em círculos mais restritos, sobre assuntos religiosos, políticos, literários, artísticos, etc."




Giovanna de Moraes Pereira- 1º ano direito noturno
RA: 231223706