sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Carta para quem não liga

Querida vó, 

Essa já é a centésima carta que lhe escrevo, uma por semana, desde que você entrou em coma. Já são quase dois anos desde o acidente. Chego a pensar que esses escritos parecem mais um diário do que as minhas atualizações de vida pra senhora, mas eu precisava de algo pra substituir nossos cafés semanais. E, sabe, lá no hospital é muito difícil, não consigo falar tudo que preciso pra você com o pai e a mãe por perto, às vezes com o enfermeiro na sala. É como se eu não pudesse ser eu na frente de todo mundo. Então faço as cartas.  

Queria te contar mais em voz alta sobre minha namorada, a Mari, mas ainda não falei pro resto da família que eu sou uma menina que gosta de meninas, sabe, vó? Lésbica, como te expliquei. Você me diria que não tem nada de errado, eu bem sei, falaria que eu sou quem tenho que ser. Mas é complicado...Por mais que eu me entenda comigo mesma, é como se algo estivesse me pressionando pra não falar disso. Assunto proibido. É errado? Pra mim, não, mas eu sei o que significa para as outras pessoas, e é muito difícil carregar o peso de ir contra um comportamento convencionado. 

A Mari parou de depilar a perna essa semana, vó! Você já pensou no porquê de a gente nunca tentar isso? Ela disse que refletiu e entendeu que precisava diferenciar o quanto se sentia confortável sem pelos na perna porque queria se ver assim ou porque queria que as pessoas não encarassem ela de outra forma. É sobre decidir se quer uma ação “de você por você” ou “de você pela sociedade”, ela disse. Mesmo que a linha seja muito tênue, no final das contas. Não acho que a gente tenha alguma vontade não tocada pelas pressões do coletivo, sabe? Mesmo no que é mais particular, a gente traz essa influência do que é externo. Uma mistura que só, vó...O que será que você diria? Sempre falou que não ligava pro que as pessoas pensavam, mas até quem não liga acaba tendo esses pensamentos como referência (pra concordar ou discordar).

Dizem que nesse mundo onde a sociedade influencia muito do que somos, tudo caminha pra um certo equilíbrio. Mesmo que o externo esteja sempre acima de nós, por fazer muita pressão em nossas vidas, isso não seria tão ruim, porque é em nome de uma harmonia...É como se a gente fosse se adaptando ao mundo e ele fosse mudando com o tempo (sempre pra melhor?). Sei lá. Eu não vejo equilíbrio nisso, vó, eu vejo tanta disputa. Uma disputa entre os grupos que dizem como a sociedade deve ser- os mais poderosos- e outros que, ou seguem as regras, ou não ligam pra elas, como a senhora, e, às vezes, quebram as regras. Pra mim, isso é sobre conflito, não equilíbrio, sabe? E me encontro cada vez mais no grupo que não quer ligar pra essas normas, mesmo que ligando, já que elas servem de referência, né? Ainda que para serem transgredidas.

Em harmonia ou conflito, dá pra entender que essas ordens existem. E quando a gente nota, tá sendo influenciada por elas: seja em não falar com você no hospital por não me sentir à vontade com pai e mãe; não conversando abertamente sobre minha namorada com as pessoas, por mais que eu não veja nada de errado em nossa relação ou ainda não refletindo sobre como quero conviver com meus pelos da perna. Queria saber o que você pensaria, vó, do que se lembrará quando acordar e quem será depois de alguns anos não convivendo com tantas dessas regras. Se é que você pensará assim. Afinal, por mais que a sociedade continue existindo com suas normas e a senhora esteja longe delas agora, essas regras permanecem dentro de nossa mente, né? Volte pra me contar.

                                                                                             Abraços,

                                                                                             Sua neta.


Letícia Magalhães, Noturno.

O ponto inicial do estudo sociológico para Durkheim

O estudo da sociedade deve ser objetiva, devemos nos afastar dos dogmas pessoais, das paixões e das opiniões que carregamos em nosso âmago de modo que isso não influencie em nossa definição. A partir disso, o sociólogo Durkheim determinou o fato social como objeto fundamental para a compreensão do tema, sempre desprovido de conclusões pessoais ou psicológicas, já que a sociedade é o fator principal desta discussão para o autor. Para traçar uma comparação entre o pensamento Freudiano, um dos fundadores da psicanálise, que, para compreender os problemas humanos, fazia um análise inteira do ser, diferentemente de seu contemporâneo, para Durkheim, a sociologia deveria ser tratada como uma coisa, um estudo da sociedade na sua forma mais ampla, descartando tais valores individuais ou internos, e, através da observação externa impessoal como objetivo.

Desta forma, o estudo sociológico independe de opiniões, somente assim seria realmente um estudo científico, porque, ao se livrar das amarras pessoais, e observar de fora a sociedade na qual pertence ou apenas estuda, alvitraria a objetividade ao fato social. Se não observar a sociedade como um todo, suas instituições sociais, o fato social se perde, já que, segundo o autor, tal estudo não depende apenas da soma dos indivíduos, ou de determinados grupos, tendo assim sua observação comprometida e maculada.

As instituições sociais, tidas pelo autor como um organismo vivo, são coercitivas, conversadoras e impositivas, conectadas por um conjunto de regras que Durkheim afirma não ser possível haver violação, evitando assim a anomia social. A violação seria a quebra da ordem, mas as instituições sociais seriam o ponto de inflexão que estabilizaria o comportamento através de regras e preceitos. Um exemplo disso, dá-se a partir da compreensão das religiões nas sociedades, que se sobrepõe ao interesse e a vontade individual para assim criar uma instituição social e partir dela prover punição e condutas, independente de qual período ou região tal sociedade pertenceu.

Então, o fato social determina-se, a partir do estudo da sociologia, no entendimento das leis sociológicas para que, independentemente dos indivíduos, respeitasse a ordem natural e assim, através de métodos científicos, compreendesse as ações sociais como um todo, afastando-se de denominações individuais e subjetivas. Esse seria o ponto inicial para o estudo e partir da observação, reconhecer e compreender a sociedade, suas relações, punições de modo que nota-se um equilíbrio e coesão entre elas.

Claudio Marinheiro - Turma XXXVIII (Noturno)

A superlotação carcerária e os reflexos do direito punitivo

     Hodiernamente, no Brasil, há uma superlotação da população carcerária, somado a existência de um direito, predominantemente, punitivo, o qual reproduz aspectos análogos à escravidão. Dessa forma, o pensamento coletivo de que criminosos merecem castigo ou, até mesmo, a morte evidencia o porquê da ocorrência dessas situações precárias no sistema penitenciário brasileiro. Ademais, a estruturação de leis que afirmam preceitos morais de desigualdade resulta em danos à solidariedade humana.

     Primeiramente, na esfera sociológica, Émile Durkheim em sua obra, A divisão do trabalho social, argumenta sobre o direito restitutivo. A saber que este seria o responsável por reinserir o detento na sociedade mediante formas de educação e aprendizado, ou seja, um meio de regular o convívio interpessoal. Com isso, Durkheim estabelece uma relação entre esse método e o sistema nervoso necessário para constituir harmonicamente as funções do corpo.

     Seguindo essa lógica comparativa de um corpo biológico com as interações humanas em uma comunidade, o sociólogo afirma o conceito de solidariedade orgânica, na qual ocorre uma maior divisão do trabalho, tornando os indivíduos mais especializados em suas profissões. Todavia, essa maior dependência entre os seres humanos não se evidencia somente em questões profissionais, mas também na formação de uma moral coletiva. Sendo assim, quando esta consciência predominante é rompida por algum de seus integrantes, considera-se o ato contrário à lei, condenando-o.

  Em suma, a superlotação carcerária é reflexo de um direito punitivo, o qual constitui, majoritariamente, o pensamento jurídico brasileiro, enfatizando medidas de repressão, ao invés de promover uma maior reinserção social da população em cárcere.


Bruno Solon Viana - Direito Matutino Primeiro Semestre

solidariedade orgânica em terras paulistanas numa madrugada fria em quatro quadrinhos

 



O quadrinho exposto acima baseia-se no que Émile Durkheim definia como 'solidariedade orgânica'. Para o sociólogo, a solidariedade seria o fator que garantiria a coesão social. A solidariedade orgânica, em oposição à solidariedade mecânica, seria característica das sociedades modernas, em que predomina a intensa divisão do trabalho, na qual cada sujeito desempenha uma função especializada, o que faz com que o grau de interdependência entre os indivíduos seja ainda maior. Além disso, as pessoas diferem em seus valores e crenças, assim como em seus interesses pessoais e dessa forma, prevalece a consciência individual sobre a consciência coletiva. A sociedade, como Durkheim pensa, seria tal qual um organismo vivo: os órgãos são diferentes entre si, mas dependem um do outro para um bom funcionamento do ser vivo.

Laura Ruas - 1° ano, Direito Matutino