quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O materialismo dialético como método científico de análise social

Marx e Engels, ao elaborarem uma teoria do socialismo como ciência, foram responsáveis por desenvolver um novo método científico para o estudo da sociedade. Partindo da crítica à metafísica, tais teóricos refutam a subjetividade dos primeiros socialistas, denominados por eles "utópicos", devido aos seus ideais ilusórios de que a revelação do socialismo como uma verdade absoluta, expressão da razão e da justiça, seria o suficiente para transformar a ordem estabelecida. Para Marx e Engels, utilizar o método metafísico para explicar a sociedade burguesa consiste num grave equívoco, uma vez que tal concepção, ao analisar os fenômenos através de elementos isolados, faz com que se perca a visão do todo, a dinâmica das relações, ou seja, os aspectos mais relevantes. Nesse método unilateral, limitado e abstrato, tudo resume-se a antíteses: os objetos "são ou não são". As várias determinações envolvidas, bem como as relações entre esses objetos, são ignoradas; impossibilitando, dessa forma, a compreensão da complexidade real existente.
Em vista disso, Marx e Engels concebem o método científico conhecido como materialismo dialético, que tem como fundamento a interpretação profunda da dinâmica e das conexões que envolvem os elementos, de modo a compreender o desenvolvimento da humanidade como ele é, com suas ações e reações, avanços e retrocessos. Dado que o mundo encontra-se em constante transformação, é necessário, para explicar os fenômenos, desvencilhar-se da visão fixa e isolada e observá-los sob uma perspectiva multilateral e dinâmica. O materialismo difere da dialética hegeliana ao passo que refuta o conceito de universal puro proveniente da razão. Para Hegel, considerado idealista, a racionalidade determina o real, ou seja, a realidade é uma projeção da ideia. O processo de desenvolvimento da sociedade, dessa forma, seria determinado por leis históricas universais, cuja explicação situa-se na razão, não nos fatos. As transformações sociais, sob o ponto de vista de Hegel, são tidas como frutos de concatenações conflituosas dentro da própria realidade: cada etapa histórica seria, portanto, interligada à anterior. Essa abstração hegeliana é criticada por Marx e Engels, visto que, destituída de fundamento e método científico, estabelece uma desconexão entre a filosofia e a realidade.
Segundo a concepção materialista, a ideia de universalidade é uma falácia. O desenvolvimento da história é impulsionado por leis dinâmicas, em constante transformação; assim sendo, deve-se interpretar a realidade no plano material, não racional.  O concreto é, segundo essa perspectiva, uma síntese de múltiplas determinações, que não podem ser desconsideradas. É possível estabelecer um paralelo com um fato jurídico: um ato criminoso, de acordo com o materialismo dialético, não deve ser analisado isoladamente, uma vez que existem inúmeros fatores aos quais se poderia atribuir a causa do evento. O indivíduo que o praticou está inserido em condições materiais que determinam seus pensamentos e ações, portanto, seria inapropriada uma interpretação simplista do jurista, que não fosse construída por meio do sopesamento de todos os elementos. Para Marx e Engels, são as condições materiais de existência que definem a estrutura social e política, bem como a moral e a ideologia. Mais especificamente, o modo de produção representa essa estrutura material, ou seja, é a base da ordem social. Durante toda a história, as mudanças nos modos de produção incorreram em transformações na sociedade. E essas mudanças, por sua vez, só ocorreram devido à luta de classes, o verdadeiro "motor" do desenvolvimento histórico. Através da interpretação do socialismo como método "científico-sociológico", sem expandir a discussão para o âmbito político, é possível concluir que o fundamento principal do materialismo dialético é essa concepção material da história, a ideia de que o que os indivíduos e fenômenos representam depende das condições reais em que estão inseridos.  O materialismo de Marx e Engels busca explicar a consciência humana por meio de sua realidade, não vice-versa. É necessário, pois, analisar os fenômenos através dos fatos reais existentes, considerando as conexões entre eles e, também, sua dinamicidade. Outrossim, a vida real é a expressão da vida material.

Thainara Stefany Haeck Righeto - Matutino