segunda-feira, 4 de abril de 2016

A problemática da "física social" de Comte

O espírito humano, segundo Augusto Comte, segue uma marcha progressista de desenvolvimento intelectual, passando, necessariamente, por três estágios: teológico, metafísico e positivo. O estado teológico ou fictício consiste no conhecimento baseado em fenômenos sobrenaturais e suas fantasias, visto que são espontâneas, representam um ponto de partida indispensável na formação do intelecto humano. O metafísico ou abstrato, por sua vez, trata-se de um estágio de transição, cujas bases são forças abstratas personificadas. O estado definitivo e mais complexo do conhecimento humano é o positivo, que se fundamenta em fatos reais e dados empíricos.
A filosofia positiva teve como precursores Descartes e Bacon, porém, sua consolidação só se deu com a teoria de Comte. Seu principal pilar consiste em considerar todos os fenômenos como sujeitos à leis naturais invariáveis, buscando conhecer e interpretar somente os fatos e suas relações de sucessão e similaridade, sem ponderações acerca da essência das coisas. Comte preconiza a aplicação do positivismo na construção de uma “física social”, cujo objetivo seria universalizar e sistematizar os fenômenos da sociedade. Trata-se, a meu ver, de uma generalização prejudicial, visto que os fenômenos sociais devem ser considerados em sua essência, dada sua enorme complexidade. Presumir que todas as relações entre os humanos seguem uma lei imutável é se ater a uma visão superficial e equivocada da realidade.
De acordo com os fundamentos da teoria de Comte, a sociedade de sua época passava por uma crise política e moral, decorrente da anarquia intelectual e do “ecletismo” filosófico. O espírito positivista seria, portanto, a única resolução cabível, levando em conta a máxima de que “a ordem é condição para o progresso.” A sistematização da moral e das relações sociais são, para o filósofo, essenciais para o desenvolvimento da humanidade. É possível identificar, deste modo, aspectos do conservadorismo nas ideias de Comte acerca da moral. Sua teoria tecnicista e moralista exerce forte influência, ainda hoje, na sociedade; ademais, a bandeira do Brasil carrega o lema positivista “ordem e progresso”. Se levarmos em consideração, entretanto, análises mais profundas sobre a humanidade, concluiremos que nem sempre é possível formar sistemas estáticos e que a concepção de progresso é relativa. Talvez o verdadeiro desenvolvimento não dependa da ordem, e sim, da subversão da mesma. 

Thainara Righeto - Matutino

Comte Aplicado

Esperar que o positivismo comtiano seja capaz de solucionar os problemas sociais da atualidade é como esperar a erradicação da fome da pobreza a partir de uma forma matemática, na perspectiva da lógica científica, proposta por Bacon, grande referência de Comte.
A técnica da observação de padrões em busca de leis gerais da sociedade deve ser tida como limitada, uma vez que em uma sociedade capitalista, a grande maioria das padronizações do cotidiano são forjadas como sustentáculos para forma de produção e das relações sociais e de trabalho advindas da ideologia dominante ou sistema vigente. A parcela que determina ordem social tem o poder de definir os rumos do progresso, o que torna o método de Comte totalmente dependente das relações de poder e dominação.
Como poderia Comte aplicar o seus princípios numa sociedade polarizada e altamente influenciável como a sociedade brasileira da atualidade? Onde os principais meios de informação estão concentrados na posse de um dos lados da polarização, onde a propaganda e a pirotecnia valem mais do que a verdade a clareza, onde o elo mais fraco é instigado a rivalidade interna como questão de sobrevivência.
O progresso não vira para a maioria enquanto a minoria dominante determinar a conjuntura da ordem. Por mais maniqueísta que pareça, basta observar as consequências da entrada do neoliberalismo na América Latina para comprovar a iminente disparidade nos rumos das classes.
A lógica do trabalho, aliada uma política de proteção não emancipatória do Estado não deve ser vista como positiva para estabilidade conservação do Estado, mas como instrumento de dominação e obtenção de lucros. A grande crítica a Conte é efetividade e o caráter de sua obra, que parece só atender aos interesses de um extremo da sociedade.
Mauricio Vidal Gonzalez Polino
1º ano/Direito/noturno