quinta-feira, 30 de julho de 2015

Indivíduo Autônomo

     Em 1979, a cambojana Rochom P'ngieng, de nove anos de idade, perdeu-se ao cuidar de uma manada de búfalos. Após dezenove anos, ela foi encontrada por seu pai. Entretanto, a mulher em questão encontrou diversas dificuldades em se readaptar ao convívio em sociedade, por exemplo: negava-se a permanecer vestida, não se comunicava, não tomava banho e não permitia que seu cabelo fosse cortado. Atualmente, ela reside no galinheiro da casa de sua família, local que adotou como lar, e recebe visitas a cada três ou quatro dias de seus pais para alimentá-la. Porém, ocasionalmente, Rochom desaparece como ocorreu em 2010, quando permaneceu longe de casa por onze dias. 
     Assim, percebe-se que o processo de readaptação da cambojana à sociedade dura dezessete anos e continua em andamento. O que se analisa é que esta é a segunda vez que Rochom passa por uma mudança drástica de ambiente, por isso, ela prefere manter-se o mais próximo possível do estilo de vida que possuía antes de ser encontrada por seu pai tanto que permanece isolada do contato com outros indivíduos no galinheiro onde vive. Desta forma, considerando os aspectos que pautam o caso em questão, cria-se a dúvida: Rochom não se sentiria mais satisfeita se voltasse ao modo de vida que passou a adotar antes de ser encontrada ao invés de ser reinserida na sociedade?
     A partir da perspectiva de que os seres humanos devem estar em comunidade, não haveria nada mais natural do que uma pessoa permanecer perto de seus familiares, sendo acolhida pelo agrupamento social de modo a fazer parte deste. No entanto, ao analisar apenas o indivíduo, observa-se que há insatisfação dado que durante o final de sua infância e toda a sua adolescência, fases cruciais no desenvolvimento psicossocial de uma pessoa, Rochom passou longe do contato humano. Logo, ela aprendeu a sobreviver de maneira autônoma assim como se acostumou a viver sozinha. 
     Por conseguinte, Max Weber afirma que "a dignidade de uma 'personalidade' reside no fato de que, para ela, existem valores aos quais a sua própria vida diz respeito, mesmo se estes - em caso bem particulares - residem exclusivamente dentro da esfera da própria individualidade, do 'viver plenamente' os interesses para os quais se exige a validade enquanto valores, constitui para ela, exatamente, a ideia à qual ela se refere." Deste modo, pode-se inferir que, apesar do comportamento de Rochom ser disforme ao convívio social, ela age conforme sua vivência a ensinou. 
     Portanto, a história de Rochom P'ngieng mostra como pode ser difícil se adaptar a um meio ao qual estava inserida até os nove anos de idade, todavia passou dezenove anos afastada o que demonstra a influência exercida pela alternativa encontrada para garantir a sobrevivência sobre a atitude de Rochom em relação a sua reinserção social. Assim o indivíduo possui suas peculiaridades a ponto de demandar uma análise profunda e complexa a seu respeito da forma como Weber propôs ao focar seu estudo na ação do ator.

Camila Migotto Dourado
1º ano Direito - diurno