sexta-feira, 27 de setembro de 2013

ENCAIXE INDUZIDO

O homem é incapaz de viver sozinho, já dizia Aristóteles. E se assim o é, as relações humanas existem desde que o primeiro existe. Indo mais além, podemos observar que as interações comerciais não são fruto de uma invenção capitalista-burguesa, mas de uma lógica racional que acompanha o ser humano sempre que a liberdade o permite isso realizar.
            Por esse viés, forte sentido ganha a afirmativa weberiana no sentido de que o capitalismo não se traduz pelo simples almejo de lucro. Afinal, até mesmo os senhores feudais obtinham rendimentos e proveitos dos que lhes eram subordinados. Ou seja, a acumulação de bens e a astúcia para obter vantagens estão com o homem por todos os tempos em que ele habita a Terra. O que diferencia o capitalismo das demais formas de relações comerciais é o racionalismo integrado que ele exige de quem o pratica.
            Para que esse racionalismo seja possível, necessário se faz um pensamento unilateral em relação há certas estruturas sociais. Isto porque as paixões humanas podem atravancar o agir e impossibilitar a concreção de uma ideia que precisa de um número global de adeptos para se manter e se solidificar.
            Neste sentido, sensível percepção teve Weber ao relatar a abertura dada pelo protestantismo ao avanço capitalista. Tamanho avanço, que até a Igreja Católica, que era antagônica ao lucro, teve que se flexionar no decorrer da história, pois o racionalismo do capital seduziu e atraiu fieis católicos aos milhares.

O mundo ocidental universalizou o desenvolvimento graças ao seu modo de pensar, e, a despeito das mazelas (que acredito existam em qualquer sistema econômico), levou aos quatro cantos a luz da possibilidade de emancipação humana por meio da ciência e da dinâmica social. Se a teoria justifica a prática, ou vice versa, pode não haver consenso, mas negar que os caminhos do pensamento humano por demais evoluíram com o espírito competitivo do modelo econômico ocidental, e que os benefícios concretos disso são incontáveis, é não enxergar a luz da saída do limbo mais escuro.

Texto da aula 1 - 2º semestre.

O rompimento de amarras

Weber em sua obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo” é marcado pelo estudo da transformação na forma de pensamento econômico a partir de estruturas mentais e padrões de conduta que concretizam a mudança na forma de produção levando a racionalização do capitalismo. Tal mudança se iniciou a partir da Reforma Protestante na qual o calvinismo desencadeia uma nova forma de pensar, sobre a justificativa de predestinação do indivíduo segundo o acúmulo e dinamização de bens materiais. Esta nova visão da ética protestante se afasta de seu sentido religioso e cria um sentido voltado à racionalização do trabalho.
Desta forma, a mudança de conduta segundo o pensamento religioso foi fator determinante para o surgimento do capitalismo, além de sua universalização e racionalização. Esta racionalização pertencia a uma perspectiva de dominação, na qual o ocidente serviria de modelo para o restante de mundo.
Contudo a alteração do pensamento vem antes  da mudança nas formas de produção. O capitalismo como forma de racionalização altera a estrutura social do pensamento da época, que vai desde a visão jurídica até a disposição do próprio homem em adotar certos tipos de conduta racional, este então passa a ver o mundo como algo a ser empreendido e transformado.

Portanto, a ética protestante levou o homem a se libertar das amarras religiosas que o impediam de visar o lucro, enriquecimento e a ostentação. Isto fez com que se criasse uma nova visão de mundo e um novo homem que busca a sua consagração terrena ao invés de apenas vislumbrar o paraíso.


             Por meio de seu método, Max Weber buscava entender a partir do agir social como se concretiza as mudanças. Buscava entender como os homens passam a pensar diferente. Porque essas mudanças na forma de pensar?
Mediante suas pesquisas, Weber irá chegar aos calvinistas.  Através da reforma protestante, que representou esse novo modo de agir, a ética calvinista buscava transformar o mundo e construir sinais de vigor econômico. Ela motiva a mudança de mentalidade que o capitalismo precisava e provoca as transformações ocorridas no mundo, e se os outros grupos sociais que não a aderirem a essa ética estarão fadados ao fracasso. Ela é responsável por dinamizar aquilo que era embrionário, impulsionando a burguesia a se tornar uma classe com poderes econômicos, e em seguida poderes políticos.
                O modo de produção capitalista busca racionalizar o investimento, ou seja, gerar mais riqueza. Esta racionalização é sustentada por quatro pilares: o pilar contábil irá separar o capital da empresa dos bens do indivíduo; o segundo pilar, o científico, é o instrumento que tornar possível o burguês transformar o mundo; o terceiro é o jurídico que será uma forma do indivíduo tenha garantias da posse de um determinado bem por aquele tempo; e por último o próprio homem, pois é preciso que a nova consciência burguesa se irradie para as outras classes e outros territórios.
A partir desse ponto que irá surgir uma ruptura diferenciando a história do ocidente. O racionalismo de dominar o mundo é forma de externalizar os sinais da graça divina, isto é, quanto mais se prospera, maiores são os sinais da predestinação. Surge o processo de ocidentalização do mundo, ou melhor, a universalização de um modo de vida.

"Amigos, amigos, negócios à parte"

         "Amigos, amigos, negócios à parte". É se não, nada mais que isso, a visão weberiana sobre a separação do trabalho e da vida particular, daquilo que ele chama de racionalização contábil, ou contabilidade racional.
         Livrar-se das paixões, em meio a negócios, nem sempre é fácil, sentimentos envolvidos podem enfraquecer a estrutura empresarial, e acabar danificando a própria estrutura familiar. Weber portanto, e para tanto, propõe a separação dos bens da empresa dos bens do indivíduo, a quem, agora indiretamente, pertencem os bens empresariais.
         Quando analisada atualmente, a sociedade, em diversos pontos, não possui, ou não adota a contabilidade racional. Olhemos o nosso Senado Federal, a nossa Câmara dos Deputados, nossas diversas câmaras de vereadores, prefeituras e instituições públicas, onde dezenas, centenas, se não milhares de casos de nepotismo acontecem. E o que seria o nepotismo, se não um caso de irracionalidade contábil, aos padrões weberianos.
         É o dono da mercearia, que abre o caixa e entrega o dinheiro diretamente ao seu filho que está saindo. É o dono da padaria que leva pão diretamente, sem devido registro, para sua casa. É a dona do restaurante, que não cobra o consumo de seus irmãos. Não há, em nenhum desses casos a devida racionalidade contábil, a contabilidade racional. As paixões falam mais alto que os negócios.
         Para Weber, as relações profissionais deveriam ter outro destino. Se amigos, amigos, seus negócios à parte.



A dinâmica capitalista

Na Era Moderna, o Ocidente veio a conhecer a organização capitalística racional, a qual era assentada no trabalho livre e valorizava aspectos como o lucro, o culto ao trabalho. Dentro desse contexto, Weber, em sua obra "A Ética protestante e o espírito do Capitalismo", procura compreender como e quando o Ocidente passou a agir dessa maneira. Isto posto, o sociólogo conclui que essa atitude tinha um caráter religioso: calvinistas buscando exteriorizar o sinal da predestinação.
A ética protestante, integrante do pensamento calvinista, compreende a ética como um padrão de conduta. Segundo essa concepção, trabalhar e prosperar são ações muito importantes, visto que representam sinais da graça divina e, por conseguinte, da salvação por Deus.
 No decorrer da historia, principalmente na Europa, essa ação social – a ética- protestante se racionaliza e se universaliza para além da religião. Dessa forma, ela foi fundamental para a expansão das ideias de economia e de sociabilidade capitalista. Assim sendo, o capitalismo tal como hodiernamente se apresenta, só tem início quando ocorre a racionalização da ética protestante. Essa racionalização, por sua vez, pode ser: contábil, científica, jurídica e, sobretudo, do próprio homem.
Em suma, o protestantismo foi, para Weber, a efetiva revolução moderna, uma vez que ele trouxe uma mudança na consciência dos indivíduos, os quais deixaram de se conformar com o mundo e passaram a querer dominá-lo e transformá-lo.

Marina Cavalli – direito diurno
     


Uma nova mentalidade


O capitalismo encontra-se atualmente em uma nítida expressão de sua força e abrangência. A maioria dos países do globo, com exceções de determinadas economias, aderem em sua totalidade o sistema capitalista e um modo de produção que almeja, sobretudo, o lucro. Essa é a lógica que norteia as diretrizes do capitalismo e que, por conseguinte, também afeta e interfere diretamente nas peripécias sociais.
Contudo, para que o capitalismo atingisse o seu aspecto e seu ânimo atual, um longo processo de formação e, principalmente, de mudança de mentalidade foi necessário. A proposta de Max Weber no texto “A ética protestante e o espírito do capitalismo” consiste em buscar entender e estabelecer como se deu essa transformação de um pensamento clássico-medieval para um pensamento capaz de impulsionar e de irradiar a força capitalista para o mundo.
Desse modo, para Weber, a mudança de mentalidade antecedeu até mesmo a mudança no modo de produção, do tradicional para o capitalista. Ela foi imprescindível para sustentar e gerar as transformações econômicas que estavam surgindo. Foi capaz de racionalizar a maneira de se produzir, com o intuito de dominar o mundo e não apenas contemplá-lo.
Essa nova mentalidade encontra seu cerne nos dizeres da religião protestante. Por um grande período da história, a usura, o acúmulo de capital, a cobrança de juros eram ditos como maléficos à vida humana, considerados erros perante a ética moral e religiosa que vigorava até então. Com a Reforma Protestante, o trabalho honesto e íntegro recebe grande destaque, possibilitando ao homem um progresso e sucesso pré- destinados.
 Com isso, gradativamente, essa nova mentalidade passa a ser intrínseca ao modo de agir da sociedade, tornando-se uma ética. Assim, tem seus primórdios na religião protestante, mas irradia-se para o mundo sobre diferentes perspectivas. Um nítido exemplo em que é possível verificar a presença dessa nova mentalidade, capaz de impulsionar e fortalecer o capitalismo, encontra-se nas intenções e nas peculiaridades do American Way of Life.
O American Way of Life foi um novo “estilo de vida” difundido pelos Estados Unidos durante o período da Guerra Fria e que se pendura até os dias de hoje. A expressão tinha a função de acentuar ainda mais a dualidade existente entre o bloco de países capitalistas e socialistas, exaltando a supremacia norte-americana e o seu modo de vida. O American Way of Life possui muito do discurso da ética protestante e, sobretudo, do capitalismo ao defender que qualquer cidadão com determinação e que trabalhe arduamente possui plenas condições de obter glória e sucesso.  Não há como negar, que dizeres como esses são capazes de impulsionar e de fortificar o progresso do capitalismo, mantendo-o o rígido e intenso até os dias atuais.


Juliana Galina - Direito diurno.

 

Modo de vida se torna modo de produção

          Na obra "A ética protestante e o espírito do capitalismo", Weber analisa de forma crítica e criteriosa o desenvolvimento do capitalismo moderno e as influências sociais decorrentes deste - em específico as condições colocadas por uma racionalização da religião, para o avanço capitalístico na sociedade moderna.
       Tradicionalmente, na Igreja Católica Romana, a devoção religiosa estava normalmente acompanhada da rejeição dos assuntos mundanos, incluindo a ocupação econômica. Tais conflitos eram baseados na não valorização do corpo e desprendimento material. No protestantismo, por sua vez, o modo para alcançar a salvação era o trabalho rigorosamente planejado, ou seja, tal religião orientava a conduta de empresários e empreendedores, afirmando que aqueles que alcançavam o sucesso financeiro eram abençoados. 
         Assim, o protestantismo define o espírito do capitalismo como as ideias e hábitos que favorecem, de forma ética, a procura racional de ganho econômico. Weber afirma que tal espírito não é limitado à cultura ocidental, mas que indivíduos de outras culturas não tinham podido por si só estabelecer a nova ordem econômica do capitalismo. “O Ocidente (...) veio a conhecer, na era moderna, um tipo completamente diverso e nunca antes encontrado de capitalismo: a organização capitalística racional assentada no trabalho livre (formalmente pelo menos).”

Carolinne Leme de Castilho - Direito Noturno 

A nova perspectiva analítica de Weber


      O autor alemão Max Weber rompeu com os marxistas e anti - marxistas da sua época. Assim,esse autor foi além da mera crítica ou seguimento da obra marxista. A obra "A Ética protestante e o espírito do Capitalismo", demonstra isso, ela foi um marco de uma nova perspectiva para o estudo dos fenômenos sociais e da história, colocando Marx Weber, com honra, nos clássicos das ciências humanas . 
      Esse monumento escrito por Marx Weber  teve como pressuposto a tentativa de se absorver e entender o espírito embrião e formador da ética predominante do capitalismo, como , por exemplo, o lucro, o culto ao trabalho e a sede pela acumulação de capital; valores, estes que estariam ausentes ou em quantidades pequenas em outros momentos da história.Deste modo, Weber correlaciona as seitas e comunidades  de calvinistas e protestantes(grupos que propagavam esses valores), com o avanço do capitalismo na Europa. A partir dessa relação o pensador alemão evidencia uma notável similitude nesses dois fatores. Portanto, para Weber o avanço do pensamento protestante pela Europa foi um fator crucial para a formação do capitalismo e de sua Ética, estando essa impregnada na cultura de uma dada sociedade.
     Deste modo,  a perspectiva analítica e metodológica do alemão Marx Weber  demonstra-se inovadora para sua época, a qual era permeada de pensadores marxistas ou críticos desta escola, levando em consideração a cultura formadora de uma "Ética e Espírito" do sistema de produção vigente numa dada sociedade e tempo histórico. 
     
André César S. A. Costa 
Direito Noturno

Um novo molde para a humanidade

O surgimento da ética protestante dos calvinistas foi o impulso que faltava para o capitalismo se universalizar. A partir de um novo modo de pensar, Weber tenta entender todas as mudanças ocorridas da sociedade da época até o surgimento de um novo modo de produção. Por esse motivo, Weber afirma de a reforma protestante foi uma das principais revoluções da humanidade, pois mudou o modo de agir do mundo todo.
Esse momento de disseminação da ideia protestante é marcado como o início da “ocidentalização” do mundo que ocorre até hoje com ainda mais força do que antigamente, totalmente desprendida do viés religioso. A singularidade que permitiu que esse novo modo de agir vigorasse mais que os outros da época se dá por ser um momento de racionalização que provocou grande ruptura por ter como característica o aspecto da dominação do mundo ao invés de acomodação do mesmo, sendo que nesse caso, o sentido de dominação aproxima-se do aspecto de transformar, empreender, enfim, construir o novo, como podemos ver que ocorreu e ainda ocorre com muita intensidade nos dias atuais.
O contexto de ascensão da burguesia, mesmo que ainda como classe dominada na época, faz crescer a adesão a um pensamento que santifica o acúmulo de bens para garantir a salvação concretamente no reino de Deus, ao contrário do cristianismo, que além de crucificar a ostentação de riqueza (“ mais fácil um camelo passar por uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”) , ainda não possui uma “fórmula concreta” que garanta que o indivíduo consiga entrar nas portas do céu.
                A busca por lucro sempre existiu na história, por isso, o que diferencia a ética protestante é sua disposição de conduta. A análise da racionalização dividida em contável, científica, jurídica e do próprio homem evidencia esse novo padrão de pensamento e mostra que o homem consegue prosperar mais se divide a casa da empresa, se tem ajuda da ciência, como Bacon já dizia, ‘saber é poder’ e por fim, se tem a ajuda do direito para concretizar as conquistas e manter o investimento da propriedade ao dono.

É importante ressaltar que ao analisar o protestantismo como estopim para a mudança do modo de produção, Weber não está tentando criticar o materialismo dialético de Marx, apenas tentando entender de onde surgiu essa nova dinâmica capitalista mesmo que para isso haja uma contraposição de ideias entre os dois pensadores, pois como ele mesmo cita “O espírito de acumulação não é uma superestrutura do capitalismo mas seu fato de desencadeamento, pois lhe antecedeu.”

Giovanna Gomes de Paula - direito noturno