quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A ideia inserida sutilmente


            O Manifesto Comunista de Marx e Engels não pode ser visto como um simples panfleto político, mas como uma análise da sociedade capitalista. Apesar de muitos pensarem que esse manifesto somente quer derrubar e criticar ferozmente a burguesia e a dominação dessa classe sobre a do proletariado, não é bem assim. Marx e Engels vem mostrar o quanto a burguesia foi e é uma classe revolucionária e radical. Com a ruptura do modo de produção feudal, a burguesia passou a garantir o direito à propriedade privada e as classes de pessoas passaram a ser divididas pela economia e não pela política. É louvável a tamanha capacidade da burguesia em estabelecer o contrato como elemento essencial a todas as relações, de criar um mundo a sua imagem, ela conseguiu e consegue transformar tudo em mercado (por exemplo: transformou a revolução sexual dos anos 1960 em moda e em entretenimento, a luta por igualdade de etnias em produtos específicos para cada tipo de pele, negra ou branca, até mesmo estampar camisetas com revolucionários de esquerda, como Che Guevara). Através de um discurso de liberdade e democracia fez com que mesmo os dominados e oprimidos defendam o direito a propriedade e acreditem que somente através do trabalho é possível adquirir uma vida descente, digna, não é difícil um operário ver um andarilho e exprimir a famosa frase “Porque ele não vai trabalhar?”. Nesse contexto Marx e Engels querem conscientizar os trabalhadores do mundo todo para que utilizem de todo o aparato burguês e proponham algo totalmente novo, assim como a burguesia fez com o feudalismo. Na época deles, os autores maravilhavam-se com a locomotiva que tornava possível a comunicação de trabalhadores de vários lugares e, assim, poderiam unir-se para lutar contra a diferença de classes. Marx e Engels não queriam destruir toda a modernidade descoberta, mas disponibilizá-la a todos. Mas até hoje, o discurso marxista é atual, pois a burguesia ainda impõe sua ideologia e dominação de forma sutil e globalizada. Nos anos 1980, Cazuza canta contra sua própria classe e mostra que até o operário tem um pensamento burguês, mas que a burguesia deveria pensar nos outros e disponibilizar a todos sua benfeitorias, como mostram esses trechos de sua música:
“A burguesia não repara na dor
Da vendedora de chicletes
A burguesia só olha pra si”

Porcos num chiqueiro
São mais dignos que um burguês
Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
Mas este quer construir um país
E não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O bom burguês é como o operário
É o médico que cobra menos pra quem não tem
E se interessa por seu povo
Em seres humanos vivendo como bichos
Tentando te enforcar na janela do carro
No sinal, no sinal”

Glória capitalista


A ideia que se tem, de modo geral, ao se ouvir falar do Manifesto Comunista, é a de um ataque ferrenho a tudo o que se relacione ao sistema capitalista e à burguesia. Por isso, num primeiro momento, espanta que o manifesto contenha o que se pode chamar de um “louvor” aos feitos burgueses e seu caráter revolucionário. Os autores afirmam, sobre a classe burguesa, que ela "foi a primeira a dar provas do que a atividade humana pode empreender. Realizou maravilhas que superaram de longe as pirâmides egípcias, os aquedutos romanos e as catedrais góticas; conduziu expedições que puseram na sombra todos os êxodos anteriores de nações cruzadas”. Dizem ainda: “A burguesia, durante o seu domínio de quase cem anos, criou mais forças produtivas mais maciças e mais colossais do que todas as gerações precedentes juntas. (...) que século anterior teve mesmo que fosse um pressentimento de que tais forças produtivas ficariam inativas no colo do labor social?”
Desse modo, Marx e Engels analisam também o caráter empreendedor da burguesia. Nesse sentido, é tentador afirmar que o maior feito dessa classe foi impor seu sistema econômico não pela força bruta, mas agindo sutilmente no campo psicológico dos indivíduos. Isso é, o capitalismo tem a capacidade de fazer as pessoas quererem fazer parte dele, mesmo que elas não estejam nas melhores situações. Por exemplo, os cidadãos brasileiros que estão desempregados ou simplesmente em más condições financeiras não querem mudar-se para a Coreia do Norte ou para Cuba: seu sonho é viver nos Estados Unidos, o grande símbolo do capitalismo mundial. Porque o que os anima é a esperança de alcançar propriedades, bens e mais conforto material. Quem não tem tudo isso, luta pra conseguir, e quem tem, luta para manter e conseguir mais.
E não podia deixar de ser assim: desde a mais inocente época da infância somos moldados para sonhar com as glórias do capitalismo, mesmo sem nunca termos ouvido falar sobre ele. Toda criança sabe que para ser feliz basta comprar o último lançamento de um pônei colorido de brinquedo ou o mais recente jogo de um boneco de ação. Até que seja lançado o próximo, é claro! Logo mais, o que importa é ter roupas de marca e aparelhos eletrônicos de última geração, e conforme mudam a idade ou mesmo os gostos da sociedade, mudam as necessidades, que porém nunca deixam de ser tão materialistas e banais como os exemplos. É o capitalismo que proporciona tudo isso, então porque alguém iria querer abandoná-lo?
É essa, então, a grande jogada da burguesia e seu capitalismo: você não é obrigado a fazer parte do sistema capitalista por medo da repressão de alguma força externa. Você QUER fazer parte dele porque a outra opção é uma vida sem cor, sem brilho, sem graça, como apresentava a propaganda capitalista no período da Guerra Fria.

                                      

                    O passado que é presente

O livro Manifesto do Partido Comunista, resumidamente chamado de Manifesto Comunista, escrito em 1848 por Marx e Engels dois grandes pensadores da época e que influenciam a visão da sociologia até os dias de hoje, é considerado um dos maiores ensaios políticos da história da humanidade.

Marx e Engels abordam vários tópicos ao longo do desenvolvimento do livro, um deles é a ideia central de que a luta de classes é o motor da história, ou seja, a história das sociedades independentemente do período em que se passa foi totalmente influenciada pela luta de classes. Onde através dessa luta de classes a sociedade oprimida deve tentar combater esse novo meio de produção que estava tomando conta da vida da sociedade e que ainda hoje é o que controla a sociedade atual, para que isso ocorresse a classe trabalhadora deveria se unir o que é representado pela celebre frase do livro ‘’ Proletários do mundo uni-vos’’.

Outro importante ponto abordado na obra é a questão da burguesia sendo vista como revolucionária, pois ela de forma colossal conseguiu ao longo de seu surgimento revolucionar os instrumentos de produção, as relações de produção e assim todas as relações sociais.

Engels e Marx também analisaram a questão do crescimento da indústria moderna, que a cada dia crescia de forma impressionante, controlando toda a sociedade e os elementos intrínsecos a ela através de suas invenções e descobertas e meios de comunicação. Essa análise representa a globalização, fenômeno vivido até os dias de hoje, onde uma empresa de origem americana se instala em um país do extremo oriente e passa a comandar as relações de tal região de forma que represente toda a dinâmica econômica e social do capitalismo.

O Manifesto Comunista tem a intenção de incentivar, de mostrar, que a classe trabalhadora deve tentar combater aquele novo meio de produção que estava surgindo e que até hoje está presente na célula da sociedade, pois somente assim o proletário poderia fazer uma revolução assim como fez a burguesia.

Por fim, mesmo tendo sido escrita há 164 anos, essa obra fez análises totalmente atuais e que conseguiam estudar a sociedade de uma forma única, explicando-a em toda a sua complexidade, tais elementos explicam o fato de que mesmo relativamente antiga continua cada vez mais sendo estudada e sendo compreendida como uma das maiores da história.

Afonso Marinho Catisti de Andrade