Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Capitalismo como embate cultural
O Capitalismo na Conduta Humana
Essa nova ética contraria o paradigma católico que prevalecia na Europa. Ao contrário do artesão que trabalhava apenas para prover suas necessidades, o capitalista visa ao lucro e toda sua conduta é pautada no acumulo de capital. Assim, o trabalho deixa de ser simplesmente uma forma de adquirir as necessidades materiais. Portanto, sob a ótica capitalista acumular riquezas, trabalhar arduamente relaciona-se com a ideia de virtude e eficiência e não a ideia de ganância e desonestidade.
A Igreja Católica sempre olhou o desenvolvimento capitalista com muitas ressalvas, uma vez que o lucro, a usura, eram considerados pecados por esta instituição. Dessa forma, a doutrina protestante ganhou terreno entre os novos capitalistas, pois na sua ética o trabalho era visto de maneira diferente do catolicismo e de acordo com os anseios dos novos capitalistas.
Frequente e erroneamente, confunde-se a ética capitalista com a ânsia por lucro. Erroneamente porque a ânsia por lucro está presente na sociedade desde a Antiguidade. O capitalismo traz consigo a ideia de racionalização. Racionaliza a economia; a ciência (utiliza e depende das inovações científicas); as relações jurídicas; e portanto racionaliza a humanidade.
Um exemplo desse fenômeno é o "America way ps life" desenvolvido nos Estados Unidos no século XVIII e produz efeitos até os dias de hoje. Sendo assim, nota-se que o Capitalismo não muda apenas o rumo econômico da sociedade, mas também a cultura, uma vez que interfere na conduta do indivíduo, nos seus projetos de vida, nos seus hábitos e costumes, e até mesmo na religião.
Weber, capitalismo, fé e a relação que move a sociedade moderna
No capítulo II, denominado “O espírito do capitalismo”, do livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Max Weber busca analisar o capitalismo e algumas de suas nuances, passando por aspectos do capitalismo tradicional e do capitalismo moderno.
Para definir o que seria a primeira feição deste modo de produção (a tradicional), o autor relembra alguns ensinamentos de Benjamin Franklin, tais como: tempo é dinheiro, crédito é dinheiro (juros), o dinheiro tem natureza prolífica e geradora, “o bom pagador é dono” ou “o bom pagador é dono da bolsa alheia”.
Por outro lado, contrastando com essa visão de simples audácia comercial e inclinação pessoal moralmente imparcial, aparece a figura do capitalismo moderno, do lucro entendido como que por si só, detentor de “um caráter ético de uma regra de conduta de vida”, como dizia Weber.
E esta segunda expressão do modo capitalista é justamente a de nossos dias. É o enriquecer por enriquecer, sem visar qualquer tipo de objetivo maior. É uma verdadeira obrigação imposta pelo coletivo, um poderoso fato social bastante difundido em nossa sociedade ocidental. Para Max, “do ponto de vista da felicidade ou da utilidade para o indivíduo, parece algo transcendental e completamente irracional”. Porém, uma análise mais aprofundada é capaz de mostrar que esta forma de geração de riqueza se constitui num “evidente guia do capitalismo”. Simultaneamente, Weber aponta o paralelismo entre este tipo de raciocínio com algumas ideias religiosas, como as da igreja protestante. Enquanto que a Igreja Católica pregava, e ainda prega, a condenação da usura, os protestantes entendiam o sucesso nos negócios como uma recompensa divina.
Em nossos dias, percebe-se uma intensificação dessa visão de premiação divina. Vemos a globalização cada vez maior, a comunicação em altíssimas velocidades, o dinheiro especulativo a cada momento mais voraz. A cada dia, há menos espaço para o entendimento religioso contrário aos objetivos capitalistas, ao passo que as crises econômicas mundiais são cada dia mais frequentes. É a crescente relação mutualística entre o capitalismo moderno e a fé, misturados e compreendidos dentro de um mesmo modo de pensamento, de estilo de vida moderno e de futuro completamente incerto.