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domingo, 6 de agosto de 2017

Pior para quem?

Observando os constantes comentários de meus parentes sobre a atual situação do mundo no quesito de “qualidade de vida”, há a afirmação indubitável de que em “suas épocas” o Brasil era melhor. Seus principais argumentos provêm do aumento da violência, da crença da atual banalização dos antigos costumes, e, principalmente, na crescente “vulgarização” sexual, já que neste século, para eles, muitas músicas e práticas não condizem com suas morais.
De fato, o mundo mudou em algumas décadas mais do que nos últimos séculos. E não foi somente no preceito tecnológico, ele avançou no sentido social. Assim, questiono totalmente essa preposição de retrocesso.
Passando suas adolescências no período da ditadura cercados de dogmas e paradigmas, é simples reclamarem da atual violência no Brasil, assim como, não se enquadrando nas minorias (estando dentro dos “padrões” da sociedade patriarcal brasileira), não verem melhoras em suas liberdades. Esse pensamento é “compreensível” principalmente pelo já citado: não faziam parte da minoria e não foram fisicamente e expressamente contra a ditadura a ponto de sofrerem por isso. Ele é guiado pela restrita lógica de que, se suas vidas individualmente não melhoraram sendo cidadãos “de bem” e vendo o que antes era “proibido e condenável” se tornando “comum”, a vida não está melhor. Vivem dentro dessa pequena bolha que é explicada e criticada pelos fundadores da ciência moderna: Francis Bacon e René Descartes.
Francis Bacon mostra como o puro labor da mente é enganoso. A razão usada para determinar a “deterioração” do Brasil é baseada somente em experiências particulares, desprovida de uma forma de averiguação coletiva. Isso compreende a definição do senso comum antigo, que é baseado, além disso, nas paixões e nas superstições, como critica Descartes.
A romantização do passado, junto com a tradição de que o antigo é melhor e o novo é ruim e a forte crença em afirmações religiosas são demonstrações claras desse modo arcaico de pensar e formar o conhecimento, que, felizmente, mesmo que de forma gradual, está perdendo espaço para o pensamento moderno de ciência. Este se baseia na dúvida de tudo, até mesmo de preposições antes consideradas verdadeiras e certas (Descartes), e na desvinculação dos ídolos do conhecimento, acompanhado de não acreditar somente no que a mente produz (Bacon).
E seguindo Descartes com o critério de definir a verdade ser a clareza, é possível afirmar que o Brasil evoluiu, mas não em todas as esferas. Atualmente, é clara não só a influência desses pensadores, mas o alcance de seus objetivos. Ao rejeitarem conhecimentos baseados em fé, em confirmações inatas e em superstições, uma maior neutralidade é alcançada. Além disso, a evolução no campo social é demonstrada pelo aumento da luta por parte de minorias e, ainda que longe do ideal, o aumento de suas conquistas. Em nenhuma outra época grupos ignorados pelo Estado e pela sociedade possuíram tanta voz e poder. Então, como poderia o mundo estar pior? Talvez para a parte das pessoas em que a ditadura “serviu” porque “não existia” violência, ou porque estavam dentro dos ideais da igreja e das tradições da época, mas definitivamente não para aqueles que sofriam apenas por existirem ou por serem diferentes do “padrão”, e que agora, possuem maior respeito e, principalmente, o direito inquestionável de resistência.


Thalita Andrade Barbosa - 1º ano Diurno 

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