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domingo, 13 de agosto de 2017

A limitação do pensamento positivista



Augusto Comte foi um importante pensador para a filosofia positivista, cuja compreensão torna indispensável uma visão geral sobre a marcha progressiva do espírito humano. Este, por sua natureza, passa sucessivamente por três estados históricos diferentes. O estado teológico ou fictício atribui todos os fenômenos à ação de agentes sobrenaturais, enquanto que, no estado metafísico ou abstrato, tais agentes são substituídos por forças abstratas, entidades inerentes aos diversos seres do mundo. Por fim, no terceiro e definitivo estado, o positivo ou científico, o espírito humano preocupa-se unicamente em descobrir, a partir do uso combinado do raciocínio e da observação, as leis efetivas do universo. Este estágio, também denominado física social, representa a apoteose do conhecimento segundo a filosofia de Comte.
            Esse pensamento caracteriza-se, dessa forma, por tomar todos os fenômenos como sujeitos a leis naturais invariáveis, as quais regem a dinâmica social e devem ser encontradas pela sociologia. Contextualizando essa filosofia para os dias atuais, porém, torna-se clara a limitação da ideia de sujeitar os comportamentos da sociedade a leis universais, visto que a realidade social é caracterizada por constantes mudanças e evoluções que objetivam, principalmente, desconstruir padrões impostos e enraizados. Estes costumam seguir o interesse dos detentores de riquezas e do poder, ou seja, a classe dominante, e, por isso, tentar atribuir leis invariáveis a todas as relações sociais significa impedir que se abra espaço para transformações e oportunidades para aqueles que vivem excluídos e marginalizados. Pode ser estabelecida, portanto, uma relação direta com o conservadorismo que evidentemente ainda ganha força nos dias de hoje. Além disso, a perspectiva positivista de Comte não se preocupa com as causas ou a essência das coisas, mas apenas com a observação direta do que acontece, do que é real. Ao considerar vazia de sentido a investigação das causas dos eventos, ignora-se a importância de reconhecer os problemas estruturais que assolam a sociedade, ou seja, os que estão relacionados a causas mais profundas e que se encontram na base das relações sociais, como a pobreza e a desigualdade social. Assim, observa-se que a premissa comteana de que “somente são reais os acontecimentos que repousam sobre fatos observáveis” deixa de lado a complexidade da dinâmica social.
            De acordo com Comte, a Ordem, ou seja, a estática, e o Progresso, a dinâmica, são as leis invariáveis que regem a sociedade. A estática consiste na aptidão para agir, enquanto a dinâmica se define pela ação efetiva. A ordem, na dinâmica social, é tudo que está presente de forma constante, como hierarquias, a moral, a família, o Estado. No contexto atual ainda é possível observar uma forte influência dessa filosofia, a exemplo do lema “Ordem e Progresso” da bandeira nacional, além de uma tendência em considerar “homens de bem” aqueles que defendem e configuram a ordem, ou seja, os que trabalham. Isso faz com que a sociedade menospreze considerável parcela da população que não compõe a classe trabalhadora, visto que a física social reforça a valorização do trabalho prático e a aceitação dos papéis definidos pela sociedade. Tudo isso, em conjunto, demonstra que apesar da enorme relevância da filosofia positivista criada por Augusto Comte, seu pensamento se mostra limitado e incoerente para analisar a complexidade dinâmica social atual.
Gustavo Garutti Moreira – 1º ano Direito Matutino

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