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sexta-feira, 15 de abril de 2016

NegrAção


Tição
Neguinho
Pixaim
De cor
De raça
Gorila
Mulata
Negão
Sarara
Crioulo
Preto
Macaco
Um neguinho safado,
Um qualquer,
Só mais um José,
Só mais um Silva,
No morro e na vida.
Pisado, cuspido, maltratado.
Separado, mas iguais.
Um abismo que separa.
Um muro que que separa.
A melanina que estratifica.
Só um choro mudo que fica,
Que não sai,
Mas se limpa e vai.
Vai pra frente, pra sempre.
Não vai, não passa.
Barrado.
“Aqui não tem seu número”
“Isso não é pra você”
“Você infelizmente não está nos padrões da empresa”
E o vingador é lento, mas muito bem intencionado.
Enquanto isso vai deixando todo mundo preto
E do cabelo esticado.
Mas no morro e no centro todos têm a mesma oportunidade.
É só se esforçar que consegue.
É só pegar três horas de condução.
Estudar.
Trabalhar.
Voltar.
Andar.
Mais três horas.
Quão fácil é vencer o morro.
E esquecidos.
E esquecidos.
Mas o negro, o preto, o pixaim
Põe a cabeça no travesseiro e sonha
Com mundos que não doam tanto,
Que não julguem tanto,
E por fim sorri e canta:
- A Carne mais barata do mercado é a carne negra!
A carne negra.
Negra.
Carne igual.
- Senhor Deus dos desgraçados, dizei-me vós, Senhor Deus
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar! Por que não te apagas?

Apagou, o negro dormiu. 

José Eduardo Adami - 1º Direito (noturno)

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