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segunda-feira, 28 de março de 2016

Questão de Perspectiva


Em determinado momento do filme “Ponto de Mutação”, os três protagonistas debatem uma série de distúrbios que afligem a sociedade contemporânea, como a fome no mundo, a questão da saúde pública e o desmatamento.  A personagem Sonia Hoffman, uma cientista norueguesa, argumenta, então, que todas estas mazelas estão relacionadas, e provêm de uma mesma crise: a de percepção. Essa ideia será desenvolvida através de diversos ângulos ao longo da trama, proporcionando uma reflexão acerca do funcionamento dos mecanismos e relações sociais.
Sonia alega que os cientistas teriam acreditado tão firmemente no pensamento cartesiano que passaram a tratar todos os seres vivos como máquinas, e esta filosofia logo seria aplicada em outros campos, como na arte e na política. A cientista defende que, embora tal teoria tenha sido de fundamental importância e utilidade no século XVII, não corresponde à complexidade da situação corrente. A fragmentação e mecanização propostas por Descartes seriam, na verdade, nocivas para a compreensão da realidade, uma vez que a natureza não funcionaria como um aparelho. Esses conceitos explicam, por exemplo, as divisões das camadas sociais, que se encontram tão hierarquizadas e díspares, que torna-se extremamente difícil a ruptura com a ordem vigente.
Em outro ponto, Hoffman explica que o que chocou os cientistas foi a descoberta de que o átomo era feito, basicamente, de um espaço vazio. O político Jack questiona tal afirmação, fazendo com que a cientista declare que a dúvida origina-se na dificuldade em visualizar algo diferente daquilo visto normalmente. Esse princípio pode ser extrapolado para justificar a exorbitante intolerância demonstrada na sociedade atual. O complexo caminho para refletir e agir com empatia gera o discurso de ódio e as reações violentas.
Sonia sugere, assim, que a humanidade adote a “Teoria dos sistemas vivos”, que trata todos os organismos como entidades interdependentes e conectadas, como paradigma. Não define, contudo, o que deve ser feito para promover a mudança tão necessária rumo a uma sociedade mais justa e igual. Ela apresenta uma atitude que beira a hipocrisia, uma vez que afirma preferir sua “torre de marfim”, expressão utilizada para descrever uma postura distanciada das preocupações do cotidiano.
O sentimento de impotência ante o futuro, uma das maiores angústias humanas, permanece tanto nas personagens quanto no espectador. Talvez, o personagem que mais permita uma identificação por parte do observador seja Thomas, o poeta, que diz sentir-se tão sufocado ao ser tratado como um sistema quanto ao ser tratado como máquina. Em suas palavras, “a vida é infinitamente mais do que as obtusas teorias a respeito dela”.

Lisa Garcia - 1º Ano Direito Noturno


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