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segunda-feira, 14 de março de 2016

O método cartesiano e a alienação contemporânea

          O que Descartes diria sobre o conhecimento adquirido na sociedade contemporânea em que vivemos? Penso que se contorceria em sua cova ao se deparar com vários comentários sobre política nas redes sociais atuais. Mera reprodução acrítica e massificadora seria pouco para categorizar as ondas de postagens sem fundamentos que a cada dia se tornam mais constantes. Onde está o método de questionar/ duvidar de tudo, proposto por Descartes, na sociedade do século XXI?

          Com certeza não está presente na vida de uma grande massa que não se preocupa em checar a veracidade das milhares de informações que recebem instantaneamente todos os dias. Isso faz com que reproduzam discursos alienados e põe a racionalidade em crise no século XXI. Como na música, Admirável Chip Novo, da cantora Pitty, as classes dominantes ditam o que a sociedade atual deve pensar, julgar, agir, vestir, comer etc. Isso acontece, pois não há o questionamento de tais “ditaduras ideológicas”. Está faltando à aplicação do método cartesiano no cotidiano. O ato de não racionalizar sobre as situações do dia a dia atrofia a criticidade e capacidade de ter opinião própria, assim, os discursos alienantes se tornam soberanos e são asseverados por mais tempo, podendo até perpetuar-se na sociedade.




          
          Pode-se dizer que o comodismo tomou conta do homem contemporâneo, o qual mesmo com inúmeras facilidades e acesso à tanta informação, tecnologia e ideologias, se torna passivo ao invés de questionar o que acontece no mundo, quais os motivos e quais as possíveis soluções para os seus problemas. Claro que não se deve generalizar, também existe parcelas da sociedade que deixariam Descartes satisfeito com o uso que fazem da racionalidade, seja para enfrentar as situações cotidianas ou para resolver problemas e criar opiniões distintas daquelas ditadas pelas classes dominantes.  Porém, parece mais cômodo deixar que ditem o que pensar, fazer, votar, comprar.

          A teoria cartesiana, mesmo que datada há centenas de anos atrás, pode ser muito bem inserida no contexto da contemporaneidade. Isso porque a alienação da racionalidade humana é um dos maiores precursores das mazelas sociais, já que uma sociedade acrítica e cômoda é incapaz de lutar pelos seus direitos e pela garantia de vidas mais satisfativas e dignas. De modo que, a racionalidade proposta por Descartes auxiliaria no rompimento da alienação ideológica tão forte na atualidade, guiando a sociedade a um caminho mais justo e digno.

          Mas exatamente por ser de centenas de anos atrás, até mesmo a racionalidade proposta por Descartes deve ser olhada com cuidado e criticidade. Pois o uso da racionalidade cartesiana, metódica e mecanicista, não possibilita análises interdependentes. Por exemplo, pessoas que usam o método de racionalizar o milagre econômico da época da ditadura como motivos para reivindicarem pela volta do regime militar para se obter, assim, avanços no país. O método cartesiano é falho nesse caso, pois não liga os inúmeros lados negativos do regime militar, como a opressão, violência e tirania. Logo, o uso do método da racionalidade apenas auxiliaria as pessoas a não aceitarem qualquer informação como verdade absoluta, mas ainda falta a criação, também, de uma consciência política, socioeconômica e cultural, capaz de proporcionar a todos a autocrítica.

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