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segunda-feira, 14 de março de 2016

Análise sobre o Discurso

   Em um cenário de transições e contradições em que consistia o início do século XVII, a obra "Discurso sobre o Método", do filósofo René Descartes, veio, através da dúvida, trazer respostas. Nesse período, o mundo assistia à decadência das estruturas feudais e à eclosão de uma nova forma de organização social e econômica. Os antigos dogmas religiosos já não satisfaziam mais a sede humana por conhecimento, iniciada pelo Renascimento Cultural, mesmo com a presença religiosa no cotidiano fazendo-se cada vez mais insistente, visto o conflito entre o Protestantismo e o Catolicismo.
   Dessa forma, torna-se impossível negar a importância do patrimônio de Descartes, que revolucionou o pensamento e abriu as portas para um imenso leque de possibilidades. O racionalismo proposto pelo filósofo influenciou profundamente a ciência, e viabilizou seu desenvolvimento até o nível que se verifica hoje. Entretanto, essa maneira categórica e minuciosa de contemplar a vida muitas vezes não é compatível com as necessidades e as realidades contemporâneas.
   O Método Cartesiano propõe a realização de quatro tarefas na busca pela razão e pela verdade, e, dentre elas, "repartir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias". Esse princípio pode ser considerado problemático, uma vez que o universo não funciona dessa maneira hermética e compartimentalizada, mas de forma conjunta e coexistente.
   Tal fundamento, se extrapolado para o âmbito das relações sociais, por exemplo, explica o medo do diferente, frequentemente observado no contato entre determinados grupos populacionais. A sociedade apresenta-se tão estratificada, nas esferas econômica, religiosa, racial, de gênero e de sexualidade, que, quando há um encontro, ocorre um choque cultural muito intenso, originando o preconceito.
   A categorização supracitada age, também, como fator limitante para a capacidade do homem, uma vez que rotula e generaliza suas vivências; dita em que grupo se encaixa e que padrão deve ser seguido. Ceifa sua habilidade de ser, e força o encaixe nas normas definidas.
   Além disso, ainda que a filosofia de Descartes seja pautada na dúvida, ela não admite a existência de incertezas, o que é exemplificado no trecho “rejeitar como totalmente falso tudo aquilo em que pudesse supor a menor dúvida”. Portanto, nega a própria fluidez da natureza humana e sua capacidade de mutação.
 
Lisa Abdala Garcia - 1º Ano Direito Noturno

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