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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A ação carismática de Jim Jones

Foi o sociólogo Max Weber quem primeiro fez uso do termo carisma para descrever uma afeição irracional que seguidores muitas vezes demonstram por seus líderes. Weber expõe que os líderes carismáticos não têm poderes especiais, senão os atribuídos pelos próprios fiéis em sua crença. O alemão estreitou o termo, descrevendo este líderes que surgem como salvadores em um momento em que uma certa população se sente insatisfeita com sua posição social. Deste, modo, o líder assume o papel de messias, cuja tarefa é trazer a cura para todos os males que acometem tal população.
         São exemplos claros de líderes carismáticos Jesus Cristo, Adolf Hitler, Lula, Nelson Mandela, entre outros ícones políticos e religiosos. Entretanto, ressaltarei aqui um exemplo não muito popular, apesar de suas particularidades e alto valor sociológico, o pastor americano Jim Jones, responsável por um dos mais chocantes casos de suicídio em massa do século XX. Analisemos, antes, os antecedentes de tal episódio.
       Desde a juventude, Jim Jones mostrou grande inclinação ao misticismo e interesse por obras sócio-políticas. Simpatizava com o marxismo e com os movimentos negros. Simpatia, a última, que resultou em sua expulsão de um seminário metodista por pregar a igualdade racial.
         Em 1954, descrente com a segregação social e inclusive religiosa, Jones fundou sua própria igreja, o Templo dos povos: Igreja Cristã do Evangelho Pleno. O Templo, localizado em uma área etnicamente integrada de Indianápolis, cidade onde morava, teve importante papel na conquista de direitos igualitários para as minorias da cidade, fazendo com que pudessem ter isonomia em departamentos públicos, hospitais e restaurantes. Jones também pregava a construção de “famílias arco-íris”, com a adoção de órfãos de outras etnias. Com sua pregação de igualdade entre os homens, Jones reuniu, no auge de sua seita, 3 mil pessoas, das quais 2 mil e quatrocentas eram afro-americanos pobres.
         Contudo, Jim Jones é conhecido apenas por ter promovido, em 1978, o suicídio massivo de mais de 900 membros do Templo (incluindo ele mesmo) em seu recanto espiritual nas Guianas e por ter “causado” ainda o assassinato de um senador americano pelos membros de sua guarda pessoal, quando o congressista fazia visita oficial ao recanto.
         Jim Jones foi considerado pela opinião pública como um monstro, responsável diretamente pela morte de seus fiéis. Nota-se, então, certas inconsistências no julgo feito de sua pessoa, em contraposição ao de outros líderes carismáticos. No tribunal de Nuremberg, por diversas vezes se tentou usar, como argumento de defesa, que Hitler fizera a cabeça do povo alemão. Todavia, nunca foi considerada válida tal desculpa. De fato, há uma dominação carismática, mas ao contrário do que Durkheim colocava com o Fato Social, não há coação, apenas influência. Há discrepâncias de juízo inclusive dentro do próprio caso da seita: o membro da guarda de Jones responsável por balear o senador tentou usar como tática de defesa a argumentação de que estaria sob efeito de uma “lavagem cerebral” proporcionada por Jones. A justiça americana, entretanto, não deferiu tão justificativa, condenando o homem. Ora, se ao julgar o guarda de Jones os americanos consideraram aquele como capaz de tomar suas próprias decisões, apesar da influência do pastor, por que assim não o fazem ao se referir ao restante dos fiéis, não teriam estes escolhido, em livre arbítrio, pelo suicídio?
         É importante constatar, também, que Jim Jones proporcionou a essas pessoas, em sua maioria pobres, segregados e marginalizados, uma escapatória para a opressão social americana, oferecendo uma esperança. Não procede, então, o hábito de fazermos juízos de valor de Jones e de seus fiéis nos baseando apenas em nossa própria vivência e visão de mundo. Deveríamos analisar, portanto, cada pessoa individualmente, não generalizando todas como cordeirinhos incapazes de tomar decisões. Devemos evitar, por conseguinte, julgar essas pessoas: cabe apenas a nós, cientistas sociais, analisarmos essa rica ação social conjunta, sem banalizarmos as vontades individuais humanas.


Paulo Saia Cereda
1º ano - Direito (diurno)
Introdução à Sociologia (Aula Weber)

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