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domingo, 21 de junho de 2015

Saudações para todas as mulheres afogadas

"Isso é o que acontece com uma vagabunda como você".

Essa frase nunca saiu da minha cabeça, mesmo depois de tantos anos passados. Foi a última coisa que ouvi antes de desmaiar. Me surpreende o fato de estar viva, minha querida, já que naquela época o marido matar a esposa adúltera não era grande coisa. E fui adúltera.

Era quase como um crime, o adultério. Como poderia? Eu trair o homem que me sustentava? Não, isso não podia. Os homens precisavam manter sua superioridade sobre nós, afinal eles eram os chefes de suas famílias! E foi isso que meu marido fez.

Refletindo sobre o que me aconteceu, cheguei a conclusão de que fui um exemplo. Na época, minha dor serviu de lição, e não apenas para mim, mas para outras mulheres, além de reconfortar os homens que um dia tiveram o orgulho ferido.

"Isso é o que acontece com uma vagabunda como você".

A situação de hoje em dia me deixa feliz e triste ao mesmo tempo. Saber que você tem uma chance menor de se tornar esse tipo de exemplo me deixa feliz. Porém, me entristece o fato dessa chance ainda existir.

Se eu acho que a situação continua, no fundo, do mesmo jeito? Bom, ganhamos algumas batalhas, mas a luta continua. Acho que as mudanças aconteceram, porque nossa situação foi ficando insustentável e ao mesmo tempo fomos ganhando força. Chegou um ponto em que não podíamos mais ser ignoradas. Isso me faz pensar que a sociedade muda mais para manter uma certa estabilidade do que para acabar de vez com os conflitos.

O importante é que passamos a aprender a não nos calar com a dor das outras. A lição ensinada com a minha dor foi mudando. Não faz mais sentido nos prenderem nas margens quando já podemos nadar em águas profundas. Muitas foram afogadas nesse trajeto, mas o medo deixou de nos paralisar.


Isabela Ferreira Sastre
1º ano Direito Diurno
Introdução à Sociologia - aula 6

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