Total de visualizações de página (desde out/2009)

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O fato social e o "Poema da Necessidade"

No final do século XIX, quando a Sociologia começava a se estabelecer como ciência, Émile Durkheim já buscava meios de inseri-la na Academia. Com um vigor interpretativo muito além de seu tempo, afirmava que isso só seria possível analisando e observando os fatos sociais. Estes, que se configuram como elementos externos que influenciam a maneira de agir, pensar e sentir de um indivíduo. Os fatos sociais são gerais, porque estão disseminados por toda a sociedade, são coercitivos pelo fato de exercerem pressão para que suas normas sejam compridas e são externos de modo que existam independentemente do indivíduo.
Segundo Durkheim, os fatos sociais ditam regras de conduta aos indivíduos que as seguem muitas vezes sem ao menos perceber. O filósofo vai além, dizendo que só realmente notamos essa pressão quando contrariamos os fatos sociais, pois do contrário, sua presença, na maior parte das vezes, não é notada. Assim, o indivíduo nega a si próprio e absorve para si tudo aquilo que a sociedade dita como verdade, chegando a tal ponto que a acomodação a essas regras fazem com que ele  acredite que certos sentimentos são próprios de sua elaboração, quando na verdade, foram transmitidos a ele.

Assim como Durkheim, o poeta Carlos Drummond de Andrade questiona essa necessidade de agir de acordo com os padrões impostos pela sociedade no poema exposto a baixo: 

Poema da Necessidade

É preciso casar joão,
é preciso suportar antônio,
é preciso odiar melquíades,
é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,
é preciso crer em deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbedo,
é preciso ler baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens,
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar o FIM DO MUNDO.
       O poema mostra a angústia quanto às obrigações que o indivíduo precisa seguir e acreditar segundo certo padrão, uma conceituação coletiva. A repetição do “é preciso” reforça a ideia da cobrança diária vivida pelo indivíduo. Exemplos do fato social no poema são: a religião, a obrigação quanto o trabalho, o casamento, a tecnologia etc. Assim se estabelece o diálogo entre o que preconizava Durkheim há anos atrás, mas que ainda é realidade, como demostra Drummond. 

Gabriela Gandelman Torina
1 ano Direito Noturno

Nenhum comentário:

Postar um comentário