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quarta-feira, 6 de maio de 2015

Entre sistemas vivos e máquinas

          O longa-metragem “Ponto de Mutação”, dirigido por Bernt Capra e baseado na obra de Fritjof Capra, tem como ponto principal a discussão sobre a necessidade de uma nova percepção de mundo. Esse debate acontece por meio de um diálogo, que se passa durante o filme inteiro, entre as três personagens principais: uma física quântica, Sônia; um político, Jack; e um poeta, Thomas.
       Sônia, logo que entra em cena, já demonstra seu pensamento anti-cartesiano. Ela afirma que Descartes via a natureza como um grande relógio e que, para ele, a melhor forma de entendê-la seria desmontando-a em pequenas peças, e, depois de analisá-las minuciosamente, seria possível entender o todo. A física era contra essa maneira fragmentada de se estudar o mundo, pois, por influência de seus estudos na área molecular, ela acreditava ser melhor analisar o objeto de estudo como um todo para poder dar ênfase na relação dele com os outros à sua volta.
           Contudo, será que sem essa fragmentação teria sido possível tanto avanço científico? Estudar um objeto como um todo é importante para se entender a relação entre todas as peças que o compõe e com os outros ao seu redor, porém, se houver fragmentação, o estudo será muito mais aprofundado, especializado e detalhado.
             Sônia se posiciona também contra o racionalismo de Francis Bacon, pois ele, de acordo com a física, argumentava que os cientistas deveriam torturar a natureza utilizando seus aparelhos com a finalidade de obter seus segredos. Hoje, com tantos avanços na área de ecologia e tendo consciência de que muitos recursos naturais são finitos, é estupidez pensar que a natureza deve ser torturada para proveito do homem, pois, fazendo isso, ele estaria torturando a si mesmo.
          Jack questiona, em algum momento do longa, como deveriam ser aplicadas no âmbito político a teoria de Sônia de que todos pertencemos a um grande sistema vivo que não pode ser fragmentado. Ela reponde que não adianta resolver problemas isolados, como a fome na África, ou o desmatamento da Amazônia no Brasil, é preciso mudar a visão de mundo das pessoas, já que todos os problemas mundanos seriam fruto dessa falsa percepção. Todavia, como estratégia política, essa ideia beira o impraticável. De que modo um político argumentaria, por exemplo, que não iria resolver o problema da fome em um país, pois isso se trataria de um fragmento de um problema maior que deveria ser resolvido mudando a percepção de cada um?
             Ao fim desses devaneios, o poeta exprime seu desconforto ao ser visto como mero objeto de estudo. Ele conclui que tanto ser chamado de sistema, como de máquina, fazia com que ele se sentisse reduzido, o que é desesperador para o ego humano.

                              Beatriz Mellin Campos Azevedo
                               1º ano, direito diurno
                             

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