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quinta-feira, 7 de maio de 2015

A teoria e seu fim

  O filme Ponto de Mutação, lançado em 1990, derivado do livro de mesmo nome de Fritjof Capra, é construído no desenrolar de um diálogo entre Sonia Hoffman, uma cientista norueguesa, Jack Edwards, político estadunidense, e o poeta Thomas Harriman. No decorrer desta conversa Sonia contesta a visão cartesiana, newtoniana e patriarcal do mundo e argumenta em prol a uma teoria sistêmica, ou seja, um olhar que enxerga tudo como algo único, relacionado e interligado.
  Ao tentar desconstruir a percepção mecânica inicialmente defendida pelas outras personagens Sonia aponta como erro a tentativa de desmembrar o objeto observado e entender suas partes para depois coloca-lo como um de novo e, a partir dai, tentar entende-lo como um todo. Ela defende que há relações e conexões entre tudo que compõe nossa realidade, assim, tornando essa um único sistema não passível de cortes, quebras e desmembramentos, pois, ao entender algo solitário desse meio seria desconsiderado as ligações deste com o todo, portanto, o conhecimento alcançado seria incompleto e parcial.
  Após longa discussão de suas teses, as quais defendem, no cunho social, a remodelação do pensamento (para prevenir problemas em potencial)  e não a intervenção (sanar os problemas após ocorridos), Jack questiona: suas ideias podem mudar a lógica social? Elas são práticas e aplicáveis?
E este é o ponto crucial, em minha visão, de toda a trama do filme, pois, sim há o que mudar, renovar e repensar na sociedade e é a ciência (entenda-se incluído no conceito de ciência a filosofia e sociologia) o meio pelo qual novas teorias e concepções apresentam-se, porém, se tais propostas não são viáveis e aplicáveis na sociedade, ou seja, são apenas ideais utópicos que tentam de maneira irreal transformar a lógica social, qual o fim deles? São eles de alguma importância real?
  Ao defender a mudança do habito alimentar e a diminuição da produção de carne vermelha, por exemplo, Sonia explicita ideais que possuem fundamento lógico: com a diminuição do consumo de carne vermelha e a reeducação alimentar vários problemas de saúde tornariam-se menos incidentes; entretanto, o mundo capitalista contemporâneo dependente da produção em larga escala para sua sustentação e manutenção, logo, tal proposta demonstra-se vazia, pois, não há a possibilidade concreta de que numa visão sistêmica, ou seja, da interligação de tudo e todos, de tal acontecimento e outros de mesma natureza, realizar-se sem a quebra do mesmo, porque, ao romper alguns conceitos baseados nessa lógica (de prevenção e não intervenção) romper-se-iam inúmeros outros devido a ligação entre todos eles causando, assim, em algum momento a dissolução da atual lógica social.
  Portanto, a teses pregada pela cientista não é aplicável, não que seja errônea ou ruim, mas apenas não concretizável na sociedade ocidental atual, devido à lógica a qual aquela funciona, pois não é sensato crer que uma organização direcionaria-se para práticas as quais resultariam em seu fim.    

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